Uso de acupuntura nas ovelhas
A acupuntura é um procedimento terapêutico milenar que consiste em introduzir agulhas em determinados pontos da pele. Sua aplicação é amplamente conhecida em humanos e, recentemente, surgiu o interesse em avaliar esta terapia em diferentes espécies animais.
Não existe uma teoria única que explique de forma clara e precisa o mecanismo de ação da acupuntura, se considerar que nela interagem vários mecanismos e sistemas ao mesmo tempo, sendo a sua aplicação amplamente conhecida em humanos. Na China, a acupuntura é praticada em animais há mais de três mil anos, porém, no mundo ocidental é recente o interesse em usar esta terapia para avaliar diferentes espécies animais, mesmo não tendo sido encontrada, em literatura, informação quantificada dos resultados obtidos (Sumano y López, 1990, Klide, 1997, Casasola, 1999).
Cassasola (1999) já narrou resultados satisfatórios obtidos em cavalos tratados com problemas de artrose, cólicas nefríticas, esfriamento e fraqueza geral. Em cachorros com problemas digestivos, traumatismos, artrose, artrite e luxações e em ovelhas com problemas de recusa da sua cria e problemas de mastite. As raças ovinas possuem uma produção baixa de leite, o qual é consumido quase que exclusivamente pelos cordeiros. A maior quantidade de leite aparece na primeira semana de lactância, diminuindo a produção rapidamente e sendo muito baixa após a oitava semana.
O Instituto de Produção Animal da Faculdade de Agronomia, da Universidade Central da Venezuela, realizou uma pesquisa com o uso de acupuntura através de ovelhas tropicais da raça West African mantidas em estabulação, com manejo e alimentação intensivos. Com o objetivo de implementar a rotina do manejo dos animais, realizou-se uma prova preliminar, na qual 16 ovelhas adultas, cujo peso médio era de 36 quilos, foram tratadas durante as últimas semanas de lactância. Estas foram divididas aleatoriamente em dois grupos. A metade das ovelhas foi tratada com acupuntura uma vez por semana, durante dez minutos por sessão, utilizando-se agulhas chinesas de 40 mm de comprimento e 0,35 mm de diâmetro. O tratamento começou na terceira semana de lactância. Em quatro delas, as punturas foram realizadas até à desmama dos cordeiros (às 10 semanas de idade) e as outras quatro continuaram o tratamento após a desmama. O outro grupo de oito ovelhas não recebeu a acupuntura.
Desde o início da pesquisa, os cordeiros foram separados uma vez por semana de suas mães, as quais foram ordenhadas manualmente após receber 2 cc de oxitocina, via intravenosa. Os resultados obtidos com estas ovelhas foram comparados com o grupo que não foi tratado. A produção de leite não apresentou grandes diferenças antes da desmama, porém, as ovelhas tratadas puderam ser ordenhadas por mais tempo, cerca de 6 semanas, mantendo uma maior produção leiteira (média de 323 g/dia) que aquelas que não receberam tratamento (289 g/dia) e só puderam ser ordenhadas durante 3 semanas.
Os resultados obtidos, portanto, indicaram que é viável o uso da acupuntura na espécie ovina, com possibilidades de prolongar o período de produção de leite nos animais tratados.
10/01/2008 - Revista O Berro nº 108